Após percorrer comunidades indígenas de Mato Grosso e Tocantins, o projeto Defensorias do Araguaia encerrou sua segunda edição na última sexta-feira (30), em Goiás, com atendimentos nas aldeias Bdè-Buré e Buridina. A iniciativa garantiu acesso à justiça, regularização documental e assistência jurídica a dezenas de famílias indígenas, em ações que unem a Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso, Tocantins e Goiás, além da Defensoria Pública da União e parceiros locais.
A recepção da comunidade marcou o encerramento da jornada. Para a cacica da Aldeia Buridina, Valdirene Mahudikè, a chegada da Defensoria representa um avanço significativo. “É com muita honra que recebemos esse projeto. Para nós, que enfrentamos tantas dificuldades com documentação, principalmente na vida escolar, esse atendimento é muito esperado e necessário. Estamos gratos e esperamos que essa iniciativa se repita muitas vezes”, destacou.
A segunda subdefensora pública-geral de Mato Grosso, Maria Cecília Alves da Cunha, reforçou o caráter humano do projeto. “Somente quem vive esse projeto sabe o quanto é acolhedor, o quanto a comunidade nos acolhe. É diferente ser recebido com sorriso no rosto. Eles têm muita gratidão, porque a nossa missão é ir também onde o assistido está. Então é a Defensoria chegando no território, atendendo, sendo acolhida e acolhendo”.
Os casos atendidos no último dia ilustram a relevância da iniciativa. A coordenadora do Núcleo de Questões Étnicas e Combate ao Racismo da Defensoria Pública de Tocantins, Letícia Amorim, destacou a complexidade de erros documentais enfrentados por um indígena atendido. “Foram necessárias oito retificações em sua certidão de nascimento, que apresentava erros nos nomes, nos dados dos avós e até no município. Esse tipo de situação mostra como é fundamental estarmos presentes nos territórios. Não é algo que se resolve por telefone, são questões sensíveis que precisam de acompanhamento de perto”, afirmou.
O indígena Niculau Cawinan, de 70 anos, agradeceu a correção de registros equivocados. “Hoje estou feliz, porque agora está certo. Antes achava que estava tudo correto, mas não estava. É importante demais ver a Defensoria chegando até nós.”
Outro atendimento de destaque foi o de Leidilaura Moraes de Moura, 29 anos, que buscava formalizar a união estável para visitar o companheiro preso e permitir que ele acompanhasse o crescimento da filha recém-nascida. O processo foi agilizado com apoio do programa “Além das Grades”, da Defensoria Pública de Goiás, garantindo o direito à convivência familiar. “Já fazia dois anos que eu tentava resolver isso sozinha e não conseguia. Hoje, com a ajuda da Defensoria, vou poder visitar meu marido e levar nossa filha para ele conhecer. É uma felicidade enorme”, relatou Leidilaura.
A segunda edição do projeto Defensorias do Araguaia percorreu ao longo de uma semana as aldeias São Domingos, Fontoura, Bdè-Buré e Buridina. Mais do que números, o projeto deixa marcas de pertencimento, dignidade e efetivação de direitos.