A história da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPEMT) está ligada de forma umbilical aos seus defensores e defensoras que atuam na instituição desde o momento em que ela foi instalada, por meio do Decreto Estadual 2.262/1998. Em celebração ao Dia Nacional da Defensoria Pública, comemorado nesta segunda-feira (19), a trajetória da defensora Alenir Auxiliadora Ferreira da Silva Garcia ganha destaque. Integrante da primeira turma de defensores públicos da DPEMT, ela iniciou sua atuação no núcleo de Várzea Grande, contribuindo desde os primeiros passos para a consolidação do acesso à justiça no estado.
Nascida e criada em Cuiabá, Alenir se formou em Direito pela Universidade Federal de Mato Grosso em 1994. Ela sempre sonhou em prestar concurso público e, por ter atuado na advocacia por alguns anos, sentiu que o concurso para defensora pública aberto à época era a oportunidade perfeita para unir suas duas paixões: advogar e também de prestar serviço à sociedade em vulnerabilidade.
“Quando tomamos posse em 1999, sendo a primeira turma de defensores em Mato Grosso, foi desafiador. Tomamos posse no dia 24 de fevereiro e no dia 25 já teríamos que trabalhar. Mas onde? Nós não tínhamos uma estrutura pronta. Fomos até a sede onde ficava o defensor geral, ali no Centro Político Administrativo, e lá cada um recebeu a sua incumbência, que eram os mandados para que pudéssemos ir buscar os processos nas varas”, conta Alenir.
O frio na barriga e a ansiedade de fazer com que tudo desse certo eram inegáveis, afinal, a jovem defensora tinha um mundo de oportunidades pela frente. Porém, algo ainda era difícil: a falta de estrutura. Como era lotada em Várzea Grande, Alenir conta que por muitas vezes os defensores realizavam as análises processuais em casa ou nos fóruns. Já os atendimentos aos assistidos eram feitos com hora marcada e não em Várzea Grande, mas na sede da Defensoria, em Cuiabá.
“Na época não havia previsão nenhuma de recursos para a Defensoria Pública. Muitas vezes tive que ir fazer audiência em Poconé porque lá estava precisando de alguém. Nosso defensor geral à época saía nas secretarias procurando um carro para nos levar. (...) Algum tempo depois a direção do fórum de Várzea Grande arrumou uma pequena sala para a Defensoria, mas como a sala era pequena e éramos nove defensores, n´os tínhamos que fazer rodízios: ‘hoje eu vou, amanhã vai você’”, relata a defensora com um sorriso no rosto.
Mesmo com tantos percalços, desistir nunca foi uma opção. Alenir sempre teve uma área de atuação que tocou o seu coração, o da infância e adolescência. Atuando ao lado das famílias dos assistidos, ela conta com carinho dos atendimentos que marcaram sua trajetória, como por exemplo de um adolescente que estava internado em uma unidade de ressocialização e quando ganhou a liberdade veio lhe agradecer.
“Nenhum momento eu me arrependi de ter assumido como defensora. Cada dia mais eu tinha certeza que escolhi a profissão certa para minha vida. Eu sempre gostei da Defensoria, mesmo com todas as dificuldades que passamos no começo. Isso é o que chamamos de Defensorar, é atender os nossos assistidos com carinho e dedicação para que essa pessoa saia daqui da Defensoria com dignidade. É você romper todas as barreiras de exclusão, resgatar a dignidade da pessoa”, diz Alenir de forma emocionada.
Nova geração - Nascida no estado de São Paulo, Tais Stradiotto Papa, assim como Alenir, chega com muita garra e ânimo para atuar na Defensoria de Mato Grosso. Com apenas 28 anos de idade e formada em direito em 2021, Tais aceitou o desafio e tomou posse como defensora pública em outubro de 2024, saindo do estado de São Paulo para atuar nos núcleos de Itaúba e Terra Nova do Norte.
“De início parece um pouco aventureiro, sair do seu estado para morar em uma cidade do interior de um estado novo, onde você não tem amigos e nem família. Deu um frio na barriga e em certos momentos ficamos preocupados. Mas quando você vê que as coisas estão dando certo, que os processos estão tramitando e que temos uma equipe boa, com uma boa estrutura para trabalhar, acaba com toda essa dificuldade. Quando vim para a Defensoria de Mato Grosso eu já sabia que é uma das melhores Defensorias em termos de recursos humanos e isso foi fundamental para que eu desse conta do trabalho, isso é muito gratificante. Desde outubro de 2024 eu tive a chance de inaugurar os dois núcleos em que eu atuo, fizemos a inauguração do núcleo de Itaúba e no final deste mês iremos inaugurar o núcleo de Terra Nova do Norte. Desta forma, eu sinto que estou colhendo os frutos que a primeira turma de defensores plantou”, comemora Tais.

Animada com os desafios que vem pela frente, a nova defensora sabe que os 26 anos da DPEMT foram construídos com a força de defensores, defensoras e servidores que chegaram na instituição antes dela. “Eu sou muito otimista em relação ao futuro da Defensoria. O próprio conceito de vulnerabilidade mudou de 25 anos para cá. No início a gente entendia como vulnerável basicamente a pessoa financeiramente hipossuficiente, mas hoje isso mudou muito. Desta forma vemos que a atuação da Defensoria foi mudando para abarcar todos esses novos grupos que foram sendo atendidos. É por isso que eu acredito que a nós vamos continuar ampliando os atendimentos sem perder a qualidade, com tecnologia, mas sem perder o contato humano que é o que faz a Defensoria”, conta Tais.
Assista aqui o vídeo da entrevista com Alenir e Tais em comemoração ao Dia Nacional da Defensoria Pública.