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FORMAÇÃO EM DIREITOS


Procurador do Trabalho alerta para sinais de escravidão doméstica em formação de Defensores Populares

Quinto encontro promovido pela Escola Superior da Defensoria Pública discutiu os direitos dos empregados domésticos e as formas de identificar e denunciar o trabalho escravo

Por Marcia Olivera
16 de de 2025 - 15:06
Josy Machado Procurador do Trabalho alerta para sinais de escravidão doméstica em formação de Defensores Populares

Quinto encontro de Defensores Populares reunião sociedade civil para reconhecer trabalho escravo doméstico


O Curso de Formação “Defensores Populares” realizou o quinto encontro no fim da tarde de quarta-feira (15) e tratou do tema “Direitos dos Empregados Domésticos e Trabalho Escravo Doméstico”. A palestra foi ministrada pelo procurador do Ministério Público do Trabalho PRT 23 (MT), Allyson Scorsafava. A iniciativa faz parte da programação da Escola Superior da Defensoria Pública (ESDEP), com o objetivo de fortalecer a cidadania e promover o acesso à justiça por meio da educação popular em direitos humanos. 

“Para os presentes aqui hoje falei sobre como reconhecer o trabalho escravo doméstico, a quem reportar, quais são as consequências desse crime e como conscientizar sobre o trabalho escravo doméstico, o que pode o que não, nessa que é uma excelente iniciativa da Defensoria Pública de Mato Grosso. Falei no quinto encontro de formação, que na semana que vem, será com o defensor público federal Renan Souto Mayor, que vai falar sobre povos originários”, disse. 

O procurador explicou que o trabalho doméstico análogo à escravidão pode ser reconhecido por sinais como o isolamento da vítima, que perde contato com a família, ausência de amparo previdenciário e a impossibilidade prática de deixar a atividade por não ter para onde ir ou rede de apoio. 

Ele enfatizou que “é preciso ter consciência de que o trabalho doméstico pode ser classificado como trabalho análogo ao de escravo” justamente por essas restrições à liberdade de ir e vir e pela vulnerabilidade em que a pessoa se encontra.

Scorsafava explicou como identificar o trabalho escravo em modalidades rurais e urbanas por meio de práticas como condições degradantes de trabalho, jornadas exaustivas, falta de pagamento adequado, cerceamento de comunicação, alojamentos precários ou insalubres e obrigação de permanecer no local de trabalho, todos esses são indicativos do crime, explicou. 

Ele também destacou que o combate exige articulação institucional para garantir resgate, assistência e responsabilização dos empregadores que mantêm essas práticas. De acordo com o artigo 149 do Código Penal Brasileiro, submeter alguém a condição análoga à de escravo, seja por meio de trabalho forçado, jornada exaustiva, condições degradantes ou restrição da liberdade é crime punido com reclusão de dois a oito anos e multa, podendo a pena ser aumentada se o crime for cometido contra crianças, idosos, pessoas com deficiência ou mediante retenção de documentos. 

Canais de denúncia - Em Mato Grosso, denúncias de trabalho escravo, doméstico ou em qualquer outra modalidade, podem ser feitas de forma gratuita e sigilosa por diversos canais oficiais. O principal é o Ministério Público do Trabalho (MPT-MT), que recebe denúncias pelo site: prt23.mpt.mp.br/servicos/denuncias ou pelo telefone: (65) 3613-9100. 

Também é possível denunciar pelo Disque 100, canal nacional de direitos humanos que funciona 24 horas, inclusive nos finais de semana. Outra opção é o Sistema Ipê do Ministério do Trabalho e Emprego, disponível em: ipe.sit.trabalho.gov.br, e o aplicativo Pardal, do MPT, que permite registrar denúncias de forma rápida e anônima. Todos esses meios garantem o sigilo do denunciante e ajudam a combater práticas que violam a dignidade humana e os direitos trabalhistas. 

Legislação - Os trabalhadores domésticos no Brasil, durante décadas, estiveram à margem da Consolidação das Leis do Trabalho (CLT) e a categoria conquistou avanços significativos com a Emenda Constitucional nº 72/2013, conhecida como “PEC das Domésticas”, e posteriormente com a Lei Complementar nº 150/2015, que regulamentou direitos como jornada máxima de 44 horas semanais, pagamento de horas extras, descanso semanal remunerado, férias, FGTS e seguro-desemprego. Mesmo assim, muitos trabalhadores ainda enfrentam situações de exploração e informalidade e o procurador esclareceu quais são essas situações e como as pessoas podem identificá-la.

Para o palestrante é essencial reconhecer o espaço doméstico como um ambiente de trabalho que exige respeito à legislação e à dignidade da pessoa humana. E uma das coisas importantes destacadas pelo palestrante é a necessidade de ter ponto para trabalhadores domésticos, mesmo que a contratação seja de uma única pessoa. Para empresas, a obrigatoriedade de registro de ponto existe quando o número de trabalhadores é superior a 20 pessoas. Ele ressaltou que o combate ao trabalho escravo e a valorização dos trabalhadores domésticos são passos fundamentais para uma sociedade ordenada.

Defensores Populares - O Curso Defensores Populares segue até dezembro com encontros semanais, abordando temas como direitos das pessoas com deficiência, povos indígenas e quilombolas, pessoas LGBTQIA+ e saúde pública. A proposta é formar multiplicadores sociais capazes de atuar em suas comunidades na defesa dos direitos humanos e na construção de uma cultura de paz.