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PRÊMIO NACIONAL


Projeto da DPEMT que monitora pessoas encarceradas para evitar prisões ilegais conquista primeiro lugar em premiação

“Alerta 180” acompanha tempo de permanência das pessoas que entram no Sistema Penitenciário de MT

Por Alexandre Guimarães
27 de de 2025 - 10:44
Reprodução Projeto da DPEMT que monitora pessoas encarceradas para evitar prisões ilegais conquista primeiro lugar em premiação


Na noite de ontem (26), o projeto “Alerta 180” da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPEMT) venceu o Prêmio de Boas Práticas do 1º Congresso de Tecnologia e Inovação das Defensorias Públicas (CNTI), na categoria Inovação Digital na Gestão e Governança, em Foz do Iguaçu-PR.

A premiação ocorreu durante o 4º Encontro Nacional de Tecnologia e Inovação da Justiça (Enastic – Defensorias).

O projeto monitora todas as pessoas que entram no Sistema Penitenciário de Mato Grosso, acompanhando o tempo de permanência delas nas unidades prisionais e identificando os presos provisórios que completam mais de 180 dias, buscando evitar prisões ilegais.

“É com grande alegria que recebemos o prêmio. O primeiro lugar com o projeto Alerta 180 representa o reconhecimento do esforço, criatividade e dedicação das nossas equipes”, destacou a defensora pública-geral, Luziane Castro, que representou o órgão no evento.

O prêmio é organizado pela Coordenadoria Nacional de Tecnologia do Conselho Nacional das Defensoras e Defensores Públicos-Gerais (Condege).

“A Defensoria merece. Esse projeto é inovador e tenho certeza que agora vamos aprimorar ele ainda mais e vamos levar para as outras Defensorias também. Esse troféu não é meu, é da Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso”, afirmou Fernando Lopes, assessor especial da Coordenadoria de Inteligência e Segurança Institucional (CISI), logo após receber o troféu.

Foram 62 inscrições, avaliadas por 13 especialistas de todas as regiões do Brasil. Cada projeto teve ao menos duas avaliações e os melhores foram selecionados para apresentar uma exposição oral.

“Quero agradecer a todos os envolvidos na criação e desenvolvimento do projeto, que reafirma o compromisso da Defensoria Pública de Mato Grosso com a inovação a serviço da população vulnerável. Estamos no caminho certo e seguiremos firmes na construção de soluções que ampliem o acesso à justiça com qualidade, eficiência e humanidade”, ressaltou a chefe da DPEMT.

Além disso, as plataformas GAB.IA e Zeca (Zona de Esclarecimento e Consulta Ágil) da DPEMT ficaram em segundo lugar na categoria Experiência Digital e Acesso à Justiça para o Cidadão.

Atuação estratégica – De acordo com a Corregedoria-Geral, o projeto nasceu na necessidade da DPEMT de dispor de informações úteis e atualizadas sobre todas as pessoas privadas de liberdade no estado.

“O ‘Projeto Alerta 180’, desde a sua concepção, objetiva a atuação estratégica da Defensoria Pública junto ao Sistema Penitenciário, por meio de levantamento de dados e monitoramento do tempo de prisão, com o objetivo de organizar e tratar dados aptos a auxiliar a atividade-fim, promovendo resultados práticos e positivos às pessoas segregadas e a sociedade”, destacou o corregedor-geral, Carlos Eduardo Roika.

Conforme o projeto, que utiliza o banco de dados do Sistema Penitenciário de Mato Grosso, atualmente há 14.633 pessoas privadas de liberdade no estado.

Desse total, 6.883 (47%) são presos provisórios, ou seja, sem julgamento definitivo. Os outros 7.750 (53%) já foram condenados.

Segundo o levantamento, 911 mulheres estão detidas em unidades prisionais femininas, das quais 525 (58%) são provisórias.

O restante dos reeducandos (13.722) estão detidos em unidades para homens, sendo 6.358 provisórios (46% do total). Todos os dados são do dia 13 de junho.

Por meio do uso de tecnologia de Business Intelligence (BI), o “Alerta 180” monitora todas as pessoas reclusas nas unidades prisionais do estado que atingem os marcos de 45, 90, 180 dias ou mais de encarceramento.

A plataforma gera painéis visuais com dados sintéticos e, sob demanda, assessora todos os defensores públicos que atuam na área penal, permitindo a antecipação de medidas jurídicas e a priorização de casos críticos.

“A iniciativa parte do princípio de que o acesso a dados qualificados é essencial para garantir a atuação eficiente e estratégica da Defensoria, especialmente diante do grave cenário de prisões provisórias prolongadas”, afirmou Fernando Lopes.

A viabilização do programa só foi possível graças ao termo de cooperação que inseriu a Unidade de Inteligência e Segurança Institucional (UISI) no Sistema de Inteligência de Segurança Pública do Estado, garantindo acesso contínuo a dados relevantes e sensíveis.

Um exemplo concreto da efetividade do projeto ocorreu em 2023, quando o “Alerta 180” identificou um custodiado (D. de S.C.) detido em uma unidade prisional no interior do estado há muitos anos.

A análise automatizada apontou que havia mandados de prisão em aberto oriundos de Rondônia e do Amazonas.

A partir disso, a Defensoria Pública-Geral de Mato Grosso coordenou o envio de informações às Defensorias envolvidas, o que resultou na atuação conjunta para esclarecimento processual e na posterior libertação do custodiado, após o reconhecimento de sua situação penal e a adequação ao regime previsto – semiaberto.

Com a decisão de impronúncia (absolvição por falta de provas), na ação de Rondônia, ele foi inserido no regime semiaberto no executivo de pena do Amazonas e posto em liberdade no dia 29 de agosto de 2023.

Esse caso emblemático, entre outros, revela como o “Alerta 180” atua na prática: cruzando dados, superando barreiras geográficas e promovendo uma atuação integrada e técnica, com foco na dignidade da pessoa humana e no combate ao encarceramento ilegal.