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Mulher que teve filha levada pelo ex participa de projeto que foca na superação da violência

Entre relatos de dor e superação, iniciativa cria espaço seguro de escuta, apoio jurídico e arte para vítimas de violência

Por Marcia Olivera
01 de de 2025 - 17:50
Mulher que teve filha levada pelo ex participa de projeto que foca na superação da violência


L. M., 23 anos, está sem ver a filha há oito meses, quando o ex-marido, de quem se separou após sofrer violência psicológica e física, sucessivas vezes, sequestrou a menina de três anos. Ela ficou com a guarda da filha e numa das vezes que levou a criança para o final de semana com o ex-marido, ele, e toda a família dele, sumiram e nunca mais deram notícias. “Tenho vários boletins de ocorrências contra eles e um mandado de busca para a minha filha, mas, a Polícia não os encontra”, contou aos prantos. 

L. e outras nove mulheres que participaram do segundo encontro do projeto: “Promoção de Direitos Humanos por meio da Arte: Mulheres em Movimento”, dividem histórias tristes, de agressão e violência, vividas com seus ex-companheiros. Elas são atendidas pela Defensoria Pública do Estado de Mato Grosso (DPEMT), na solução de problemas jurídicos e administrativos, e participam da iniciativa que busca acolher e dar perspectivas para que ressignifiquem suas vidas. 

Os encontros são organizados pela Coordenadoria Técnica de Assuntos Interdisciplinares (CTAI), por meio da Gerência de Assessoramento Estratégico (GAE), em parceria com o Núcleo de Defesa da Mulher (Nudem) e da Escola Superior da Defensoria Pública (Esdep). Neles, cada uma pode dividir relatos, observar que não são as únicas a passar pelo problema, receber orientação e encaminhamento para as situações e, por meio da dança, são estimuladas a regatar o interesse pela vida. 

Durante a dinâmica, as mulheres que estão tensas, inseguras e cheias de problemas práticos relacionados à moradia, emprego, cuidado com os filhos, são estimuladas a encontrar leveza ao cuidarem de si. “Elas são levadas a praticar a dança, a partir da observação e repetição de movimentos simples, mas, que produzem sensação de alegria e autoestima. Elas trabalharam o corpo, a consciência do feminino e a força que carregam”, explicou a professora de dança do ventre, Yasmine Amar Kaur. 

Para a participante C. S., 42 anos, ao mesmo tempo que é um alívio decidir pela denúncia e separação, novos problemas começam e precisam ser resolvidos após essa decisão. E ter força, nessas horas, é um desafio. “Poder participar de um encontro como esse, em que somos ouvidas, contamos os problemas, choramos, mas, também podemos rir e encontrar alegria, mesmo no meio de toda a confusão, é muito importante”, avaliou.

M. V, 43 anos, mãe de quatro meninas, conta que teve problemas no segundo casamento, que terminou há mais de dez anos, mas, que ainda hoje tem pendências por conta da guarda da terceira filha, que nasceu do relacionamento. Atualmente ela está casada, teve a quarta filha e conta que todas as vezes que a terceira vem passar um tempo com ela, pede para não voltar a viver com o pai.

“Ele era uma ótima pessoa, cuidava de mim, das minhas duas filhas do primeiro casamento, mas, quando engravidei, começou a violência, primeiro psicológica, me chamava de gorda, gritava, brigava. Depois começou a quebrar coisas em casa e eu calada, sofrendo sozinha. Depois, começou a me bater e decidi pela separação. Hoje, também estou recebendo apoio jurídico da Defensoria para ter a guarda da minha terceira filha, pois ele pediu para cuidar, mas, quando ela vem ficar comigo, relata que é mal cuidada, que passa fome e implora para não voltar. Ela está comigo e quero manter ela aqui”, relatou.

A gerente de Assessoramento Estratégico da CTAI, Maria Angélica Nascimento, lembra que o caráter da proposta é de humanizar o relacionamento dessas mulheres com o órgão. “As oficinas visam proporcionar às mulheres vítimas de violência um momento de aprendizado, conexão consigo mesmas e fortalecimento. Pensamos em promover um espaço para elas tirarem dúvidas, serem ouvidas e acolhidas. Esse foi o segundo encontro e teremos outros três. Na conclusão, elas assistirão a uma apresentação de dança, feita com as técnicas que elas estão aprendendo aqui”, disse.

Orientação jurídica – Durante os encontros, as mulheres podem receber informações sobre a situação de seus processos, receber informações sobre o andamento de suas demandas e receber novas orientações. A assessora jurídica do Nudem, Laryssa França, reforçou as atribuições do Núcleo, explicou que atualmente a medida protetiva não tem mais prazo de validade de seis meses, mas, permanece enquanto a mulher precisar e lembrou os tipos de violência mais visíveis: a física, a patrimonial, a moral, a sexual e a psicológica.

Lembrou que o Núcleo está à disposição de todas as mulheres que se sentem agredidas e violentadas num relacionamento para receber apoio em medidas administrativas, jurídicas e apoio psicológico. O próximo encontro do Mulheres em Movimento será nesta sexta-feira (5), no prédio dos Núcleo Cíveis Integrados, na avenida Rubens de Mendonça.